A NOVA ZELÂNDIA PELO MUNDO DE MAGRELA: Conheça o projeto de Lucas Favaretto e sua experiência de 5
A entrevista do mês da série Brasileiros pelo Mundo será um pouco diferente.
Sobre um projeto, uma viagem por um país inteiro de bicicleta, sobre um sonho...e espero realmente que te inspire a se mover em direção aos seus sonhos, assim como me inspirou quando li.
Aproveite, conheça o Lucas, siga ele no Insta e sua viagem de cinco meses pela Nova Zelândia. (:

Conte um pouco sobre o projeto?
O Pelo Mundo de Magrela começou em maio de 2014, quando planejava minha primeira viagem de bicicleta pelo sul do Brasil.
O objetivo do projeto é inspirar outras pessoas a realizarem seus sonhos através de palestras, relatos, fotografias, vídeos e dicas de viagem.
Em quatro anos, já realizei 7 roteiros diferentes pelo Brasil, um mochilão pelo sudeste asiático e
acabei de encerrar minha maior aventura até então:
Cinco meses viajando pela Nova Zelândia.
Por onde passou e quanto tempo ficou?
Desembarquei em Auckland no dia 11 de janeiro de 2018.
Foram exatos 146 dias e 4.178 km pedalados, mais de 1000 km pegando carona, alguns de ferry boat, outros de ônibus e milhares de aviões.
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O que te motivou a fazer essa viagem?
Meu sonho de conhecer a Nova Zelândia começou após ficar sabendo que a trilogia do Senhor dos Anéis foi gravada lá.
Eu devia ter uns 12 pra 13 anos, mas naquela época nem imaginava como faria para visitar esse país incrível.
O tempo passou, a vontade ficou ainda maior, mas eu tinha um problema, o tal do dinheiro!
Pensava que para a passagem “valer a pena”, deveria me planejar pra ficar pelo menos um ou dois anos, pagar um curso de inglês, ser um dos 300 sortudos que conseguem o Working Holiday Visa ou aplicar para uma das super concorridas bolsas de estudos do governo neozelandês.
Essa crença limitante me fez pensar que só poderia realizar esse sonho quando juntasse uma quantia de R$ 30 mil ou mais.
Além de pagar as contas da faculdade, morar sozinho e minhas outras viagens mochilando pelo Brasil, demoraria muito tempo pra conseguir juntar toda essa grana.
Ou seja, minha mente adorava inventar desculpas, sabotar meu sonho e adiá-lo para o futuro.
Até que chegou o dia D, quando tomei a decisão de ir de qualquer maneira.
Esse dia foi 20 de julho de 2017, quando contei para minha mãe sobre a ideia de viajar pela Nova Zelândia de bicicleta e uma estrela cadente apareceu no mesmo instante.
Eu havia recém voltado de um treinamento de desenvolvimento pessoal em São Paulo, no qual investi uma grana e estava decidido a tomar as rédeas da minha vida.
Não, eu não estava completamente perdido ou “sem rumo” na vida, pelo contrário.
Eu tinha um emprego estável na minha área de formação, era o gerente da Pousada do Parque, um lugar reconhecido internacionalmente, membro da Associação de hotéis e pousadas Roteiros de Charme e liderava uma equipe com 8 colaboradores.
Além de receber um ótimo salário, morava num paraíso ecológico em Chapada dos Guimarães, trabalhava recebendo hóspedes do mundo inteiro e estava num relacionamento sério há alguns anos com a mulher que mais amei na vida.
Mesmo assim, como diria Joseph Climber: “A vida é uma caixinha de surpresas”.
No dia seguinte, meu pai me ligou pela manhã dizendo que minha avó havia falecido naquela noite que passei em cima da torre observando as estrelas.
Aquele foi o sinal para eu parar de adiar meu maior sonho até então.
Mas e agora, o que eu faço?
Comecei a planejar roteiros, vistos, equipamentos e o investimento necessário para ficar pelo menos 3 meses na terra da grande nuvem branca (AOTEAROA em Maori).
Pouco a pouco, o sonho que parecia distante foi ganhando forma e a ideia se tornou um plano. A partir daí, não tinha mais volta.
Falando assim parece que foi fácil, mas não foi.
Alguns meses se passaram, encerrei minhas atividades em Chapada dos Guimarães e segui meu caminho.
Ainda na fase de planejamento, fiquei um mês na região sul visitando amigos e familiares e refiz o trecho que havia percorrido de bicicleta em 2014, apresentando meus pais aos amigos que fiz na estrada.
Antes de chegar na Nova Zelândia, fiz escala em Dubai para visitar meu irmão e passar a primeira virada de ano em família nos últimos 8 anos.
Fiquei praticamente um mês no Emirado planejando a viagem, pesquisando equipamentos e tentando controlar minha ansiedade para aproveitar cada momento “pré-viagem”.

Quais objetivos/expectativas você tinha com essa viagem?
Mais do que uma viagem ao exterior, meu principal objetivo era fazer uma viagem ao meu interior.
Eu queria entender como lidar com o desapego emocional dos meus relacionamentos, da vida que havia construído até então e de tudo o que acreditava ser verdade.
Os desafios de seguir ao desconhecido, falar outro idioma e deixar minha zona de conforto eram fundamentais para esse meu desenvolvimento pessoal.
Além disso, eu tinha outros objetivos específicos como conhecer as principais universidades do país, aprender mais sobre a cultura Maori e desenvolver minhas habilidades com marketing de conteúdo, produção audiovisual e escrita de viagens.
Quais lugares eram prioridades para conhecer na NZ?
Antes da viagem, minhas prioridades eram conhecer Auckland, fazer o Tongariro Alpine Crossing e a capital Wellington.
Na ilha sul, queria muito conhecer Christchurch, chegar pertinho do Mount Cook e a capital da aventura Queenstown.
Durante a viagem, recebi dicas sobre lugares que também fiquei com muita vontade de conhecer: a cidade de Mount Maunganui, subir o Mount Taranaki e visitar a península de Coromandel na ilha norte.
Na ilha sul, fiquei sabendo do Parque Nacional das Catlins, os Glaciares e a região de Abel Tasman.

Como foi sua relação com as pessoas que conheceram seu projeto?
A Nova Zelândia é um país fantástico e é muito difícil você encontrar alguém que não esteja feliz por estar lá.
Conheci pessoas de diferentes nacionalidades nas mais variadas situações e minha relação com elas foi sempre positiva.
Muitos não entendiam como eu estava fazendo aquilo, diziam que eu era maluco ou que era muito perigoso.
Mas eu conheci pessoas de diferentes regiões do país, que nunca saíram de lá e posso afirmar que a hospitalidade é algo natural dos Kiwi (apelido dos nativos referente a ave símbolo do país).
Também conheci pessoas que me lembravam conhecidos e pessoas que por apenas alguns minutos, viraram melhores amigos ou até mesmo, que me consideram parte da família.
Reencontrei pessoas que converso até hoje e que com certeza espero encontrá-las numa próxima oportunidade.
Apesar dos lugares incríveis e do desenvolvimento pessoal, eu sempre digo que o mais importante numa viagem são as pessoas que encontramos. São elas que fazem tudo valer a pena.
Onde dormia?
Hospedagem é uma das despesas mais altas na Nova Zelândia e para tornar a viagem viável, utilizei três aplicativos diferentes:
O Couchsurfing, rede mundial para se hospedar na casa de moradores locais, o Warmshowers, um aplicativo exclusivo para viajantes de bicicleta e o Campermate, onde disponibiliza os locais na Nova Zelândia para acampamento gratuito ou com baixo custo.
Além disso, usei a estratégia de ficar na casa de amigos de amigos que depois viraram meus amigos também e de longe, esta foi a melhor opção.
Também fiquei em Hostel, mas essa era sempre minha última opção, quando estava extremamente cansado ou quando não encontrava nenhum outro lugar.
Para você ter uma ideia, das 145 noites que fiquei na Nova Zelândia, passei apenas sete (7) delas num Hostel e sempre tentei aproveitar o máximo de tempo disponível.
Nada contra este tipo de hospedagem, conheci muitas pessoas de países diferentes, mas essa é uma opção bem turística na Nova Zelândia e eu estava buscando uma experiência verdadeiramente local e necessariamente, mais econômica.
Por exemplo, ao invés de gastar com a diária de um hostel, eu preferia usar esse dinheiro para comprar um presente ou cozinhar para o meu anfitrião.

Como foi o processo de elaboração do projeto?
Escolha de roteiros? Cidades? Como organizou tudo isso?
Desde 2013, quando comecei a estabelecer metas para meus pedais, utilizo uma planilha de excel para planejar todas as minhas viagens de bicicleta e posso dizer que funciona.

Durante meu planejamento inicial, dividi a viagem em três etapas com três objetivos cada e aproximadamente um mês de prazo para finalizar cada uma. (Para completar os 90 dias de isenção do visto de visitante).
A primeira foi na ilha norte, meu primeiro objetivo era chegar em Mount Maunganui, um lugar que me aconselharam conhecer e onde eu tinha amigos de amigos brasileiros que poderiam me receber.
O segundo objetivo era fazer o Tongariro Alpine Crossing, um trekking de 20 km pelo cenário onde foi gravado algumas cenas do filme do Senhor dos Anéis.
Meu terceiro objetivo nessa primeira etapa era a capital, Wellington, onde eu peguei o ferry boat para a ilha sul.
Meu primeiro objetivo da segunda etapa era chegar em Christchurch, a maior cidade da ilha sul e onde aconteceu um terremoto em 2011, mas que até hoje é possível ver os danos que provocou na região.
O segundo objetivo desta etapa era acampar próximo do Mount Cook, o pico mais alto do país e uma das regiões mais inóspitas também.
O terceiro objetivo dessa etapa era chegar em Queenstown, a capital da aventura.
Meu planejamento inicial sempre foi sair de Auckland e pedalar até Queenstown, buscar um trabalho na área de hospitalidade e aplicar para um visto que me permitisse ficar mais tempo na Nova Zelândia.
Essa era a terceira etapa.
Assim como nas outras etapas, eu estabeleci três objetivos no prazo de um mês para ficar na cidade da rainha.
Meu primeiro objetivo era conhecer a região, visitei a cidade de Glenorchy, dirigi pelo Paraíso e subi no topo do Ben Lomond.
O segundo objetivo era saber mais sobre o estilo de vida na cidade e se eu gostaria de viver lá.
Enquanto que o terceiro objetivo era conseguir um emprego para aplicar o tal do visto de trabalho.
Felizmente, no final de um mês realizei os três objetivos, porém a vida é uma caixinha de surpresas, não é mesmo?
Uma notícia inesperada de que eu deveria encontrar minha família em junho me fez desistir de aplicar o visto de trabalho e decidi seguir viajando de volta para Auckland.
Com isso, surgiram mais duas etapas na viagem e como eu já havia solicitado a extensão do meu visto de visitante, ainda me restavam dois meses de permanência no país.
A quarta etapa era explorar um pouco mais da ilha sul.
Meu primeiro objetivo foi percorrer o extremo sul, visitar Bluff, a “última cidade” do país, atravessar o Parque Nacional das Catlins e chegar na cidade de Dunedin para participar do evento Startup Weekend.
De lá, voltei de carona para Queenstown, me despedi dos amigos e segui até meu segundo objetivo, percorrer a West Coast até Greymouth.
Atravessei a região de lagos, florestas, geleiras e montanhas até chegar no mar da Tasmânia em dez dias muito difíceis.
O último objetivo desta etapa era pegar o ferry boat de volta à ilha norte.
Pedalando pelas regiões da Great Coast e da Tasmânia, a bicicleta não aguentou o desgaste acumulado durante quase 4 mil quilômetros e precisei pegar carona em alguns trechos para sair da ilha sul.
Devido ao desgaste, decidi que a última etapa seria para aproveitar mais o tempo com os amigos que fiz e eu estabeleci os objetivos pensando nisso.
O primeiro deles era subir o Mount Taranaki, do qual já havia ouvido falar e parecia ser um grande desafio.
O segundo objetivo era conhecer a península de Coromandel, uma região belíssima que ficou marcada pela minha despedida da Nova Zelândia.
O último objetivo era chegar em Auckland com alguns dias antes do vencimento do meu visto.