Sola no Mundo: Conheça o Projeto da Raquel e sua experiência pela Amazônia!
A entrevista do mês da série Brasileiros pelo Mundo será um pouco diferente.
Sobre um projeto, uma viagem mochilando pelo Brasil, e mais especificamente pela Amazônia.
Aproveite, conheça a querida Raquel, siga ela no Insta , conheça mais sobre suas experiências e inspire-se!.. (:
Eu sou a Raquel, tenho 23 anos e em 2017 criei um projeto chamado Sola no Mundo, viagens por histórias e culturas. Além do site, tenho Instagram, página no face, um canal no YouTube e no SoundCloud. O meu projeto começou dá vontade de contar a história das pessoas e através delas, mostrar destinos pouco turísticos ou fora do roteiro tradicional.

Já viajei para vários estados do Brasil e passei 40 dias pelo norte da Argentina, quase na fronteira com a Bolívia. Pretendo continuar viajando muito. Estudo jornalismo e quando escrevo meus textos, busco passar um pouco do clima e das sensações do lugar além dos problemas sociais e ambientais que eu também relato.
VEJA todas as outras entrevistas da série AQUI!
Conte um pouco sobre o projeto?

Último projeto que fiz foi uma viagem para Amazônia. Fiz trabalho voluntário em uma Escolinha, em uma cidade do interior de Manaus, chamada Itacoatiara. Essa escolinha fica na periferia e ao mesmo tempo que entramos em contato com as crianças, também entramos em contato com a comunidade. O que foi um choque de realidade para mim. A Amazônia foi o destino mais cru que eu conheci, e luxo e conforto ficaram fora do roteiro.
A escolinha que eu fui professora foi criada por um Alemão, chamado Alex, que com 17 anos se encantou pela família do Poró e da Dona Maria, que hoje cuidam da Escolinha. Essa casa que ele comprou é inteiramente tocada por viajantes que dão aula de diferentes temas como línguas, matemática, artes e esportes para as crianças da comunidade.
A experiência teve vários lados. Não foi inteiramente linda. A comunidade não tem saneamento básico e sofre com algumas questões sociais como a presença de drogas e muito álcool, o que faz um contraste com as crianças sorrindo e brincando.
Por onde passou e quanto tempo ficou?
Eu fiquei um pouco mais de 15 dias viajando pela Amazônia. Comecei minha viagem por Manaus onde fiz couchsurfing pela primeira vez. Depois peguei uma lotação até Itacoatiara, onde fui professora pela Worldpackers. Dei aula de “como contar uma história” para eles, e cada dia inventamos personagens, cenários e enredos.
Depois peguei um barco regional até o Paré, o que foi uma experiência antropológica. Desembarquei em Santarém, a viagem durou um dia e pouco, dormi na rede como todo mundo e comi marmita de almoço e jantar. Encontrei minha segunda anfitriã do couchsurfing e de lá fomos para Alter do Chão e fizemos uma trilha na FLONA, a floresta nacional do tapajós preservada pelo ICMBio.

O que te motivou a fazer essa viagem?
Minha principal motivação foram as leis e iniciativas, propostas pelo governo vigente, que vão contra tudo que especialistas, ambientalistas e lideranças indígenas batalham tanto.
O mundo inteiro está olhando para a Amazônia, e eu queria ver com meus próprios olhos o que estava acontecendo além de entender a partir de quem vive lá o que acontece.
A natureza também me fez escolher a Amazônia, andar pelo meio da mata e escutar aquele tanto de bicho gritando, quando caiu a noite foi uma loucura. Nosso país é muito rico.
Quais objetivos/expectativas você tinha com essa viagem?
Meu objetivo era voltar com ótimas imagens (foto e vídeo). Fiz um curso de documentário antes de ir. Fiquei com a câmera no pescoço quase todo tempo, então, além de conhecer a região e viver uma experiência completamente diferente da minha vida em São Paulo pude traduzir um pouco do que vivi em textos e vídeos.
Como foi sua relação com as pessoas que conheceram seu projeto?
Lá na escolinha contei do meu trabalho para outros voluntários que ficaram muito animados. Cada um era de um lugar. Do interior de São Paulo, do Rio de Janeiro e até da Itália. Estávamos todos lá para ensinar e também nos ajudamos compartilhando as refeições e as tarefas de casa.
Também conheci lá na FLONA um australiano chamado Chris. Hoje trabalhamos editando os vídeos da Amazônia juntos, dá pra acreditar? A Lena, minha segunda anfitriã do Couchsurfing também soube do meu projeto e me ajudou muito, me levando para conhecer feiras, festas de Carimbó e passear de barco para que eu conhecesse melhor a terra que ela nasceu.

Onde dormia?
Quando cheguei em Manaus dormi na casa de uma mulher chamada Anne, minha primeira anfitriã. Depois segui para Itacoatiara onde passei uma semana dormindo dentro da escolinha, que é onde os voluntários ficam. Dormi algumas noites dentro dos barcos regionais e dentro da FLONA, em rede. O lugar mais confortável foi a casa da Lena mesmo, em Alter do Chão. Era um colchão na sala, mas me senti em casa. A Lena me recebeu super bem, gosto muito dela e sou eternamente grata pela experiência.
Como foi o processo de elaboração do projeto? Escolha de roteiros? Cidades? Como organizou tudo isso?
Tenho um pouco de vergonha de admitir, mas eu não elaborei esse projeto. Recebi um alerta de promoção de passagem para Manaus. Me inscrevi pra trabalhar na Escolinha e fui. A viagem foi acontecendo, pegar um barco e cruzar de estado do Amazonas até o Pará foi uma dica de um amigo, Júlio. Hoje vejo que foi loucura, mas que bom que eu fiz, Alter do Chão é lindo demais!
Quais gastos você teve, antes e durante o projeto?
Gastei 30 reais com acomodação no total. Antes de voltar pra São Paulo fiquei no semear Hostel em Manaus por uma noite. De resto, fiz trabalho voluntário e couchsurfing. Ajudou muito no orçamento da viagem.
Paguei R$ 500 na passagem de avião ida e volta São Paulo - Manaus. Com duas viagens de Barco Regional gastei R$ 240. Foram R$ 40 de alimentação para uma semana na escolinha, porque todos pegamos um mototáxi de R$ 5 e fomos no supermercado. Nossa compra era grande, deu isso para cada e passamos bem, cada dupla cozinhava um dia.
Por Lena ter me hospedado de graça, eu fiz o nosso supermercado, deu mais ou menos 100 reais. Cozinhamos na casa dela praticamente todos os dias. Dormir no meio da floresta Amazônica + a trilha até a Samaúma, a mãe das árvores, deu 60. Paguei pra Lena então, 120. Só sei que gastei bem menos do que imaginava.

Quais experiências você teve que mais gostou?
Entre as experiências que eu mais gostei estão com certeza o pôr do sol dentro da Floresta Nacional do Tapajós, conhecer a Rainha do carnaval Gay de Parintins, Priscilla Mollinary, no barco regional e a ilha do amor, em Alter do Chão. É uma ilha no Rio Tapajós que comparam ao Caribe.
Ah, uma quinta-feira teve festa de carimbó em Alter, a dança é muito linda e teve a presença de mulheres borari, indígenas da região que se apresentaram e compartilharam suas lutas no atual governo que não as enxerga.

Quais os maiores aprendizados que você teve?
O Sudeste do Brasil, onde eu moro, é muito diferente do resto do país. Lá fiz coisas que eu nunca imaginaria, como dormir em rede no barco regional com pessoas desconhecidas e dar aulas para crianças na periferia de Itacoatiara. Aprendi muito com a alegria delas e também com as diferenças que eu percebi entre elas e as crianças de São Paulo. Sabem se virar melhor e fazem brincadeiras mais “Hardcore” digamos, com a floresta e os animais no meio.
O que mudou em você e como se vê hoje?
Me vejo como uma mulher muito resistente, guerreira mesmo, muito forte. Sinto que posso enfrentar qualquer desafio. Percebi também que eu tenho as qualidades necessárias para a profissão que eu escolhi. Viajar e relatar as experiências do meu jeito, que é diferente de todos os outros.
Conte uma situação única de aprendizado e reflexão durante essa experiência.
No meio da floresta escutei uma lenda bem conhecida lá da Amazônia, que é a lenda do Muiraquitã. O Muiraquitã é um amuleto que as índias Icamiabas produziam a partir da argila do rio. Elas viviam em uma aldeia só de mulheres e convidavam os Guacaris, índios de outro povo para a festa da lua, Iaci o nome.

Nesta festa entregavam o amuleto de sorte aos índios. Dizem que os fazia fiéis, dizem que os fazia ser bem recebidos onde fossem e dizem também que os fazia ter força nas batalhas. Não se encontra uma só versão da história, mas gostei muito de saber um pouco mais das mulheres do Brasil.
Achei muito curioso também que nós chamamos a lenda do boto de uma história para crianças assim como a lenda do boitatá e a lenda da matinta Pereira. Mas lá essas histórias são reais para muita gente e eu voltei acreditando também, nos seres da floresta. Eles amam suas tradições e festejam muito seu folclore.
E depois do mochilão?
Voltei para São Paulo para trabalhar no blog e concluir minha faculdade de jornalismo. Recentemente fiz a travessia Petrópolis - Teresópolis, considerada por muitos a mais linda do Brasil. Trabalhei meu corpo e minha mente. Vi o nascer do sol e o pôr-do-sol como nunca.
Vi o Rio de Janeiro lá de cima, bem pequenininho e cheio de montanhas e praias. Me deu muito orgulho de ser brasileira. Fazer uma trilha tão intensa com paisagens tão lindas me deu mais força e vontade de continuar explorando o mundo. A próxima viagem ainda é uma incógnita, mas o meu foco é continuar fazendo entrevistas e dar contexto as histórias unindo a situação política e ambiental com a visão dos locais.
Convido todos vocês a seguir meu Instagram @solanomundo, YouTube, Facebook e conversar comigo! Gosto muito de ajudar pessoas a começar a viajar a fazer trabalho voluntário. Quero mostrar, da minha forma, que você não precisa de muito dinheiro para viajar e conhecer outras culturas, precisa de muita vontade e disposição de passar alguns perrengues, que deixam tudo mais saboroso.
E você gostou do projeto incrível da Raquel? :D Eu amei e já quero conhecer mais histórias inspiradoras como essa.
Deixe sua opinião e comentário sobre o post aqui embaixo. Vou amar saber a tua opinião! (:
Resposta BAV: Raquel, agradecemos de coração sua disponibilidade em participar da Série BRASILEIROS PELO MUNDO, que tem o intuito de trazer mais dicas e inspirar cada vez mais os leitores do Blog Alma Viajante. Esperamos em breve poder conhecer esses lindos lugares, cada vez mais viajar assim...focando fora da bolha do tradicional. Muito obrigada por participar e compartilhar as dicas! :D